Duas Luas

E mais um quadrinho brasileiro ganhando espaço em nosso blog. Hoje vamos falar de Duas Luas de André Diniz.
Nilo mora na Baixada Fluminense e em meio a bêbados e ameaças de morte toca um bar que está à venda. Em meio a tantos problemas, Nilo quer mudar de vida só que as coisas não são tão simples e ainda tem o fato de que o amor de sua vida está esperando um filho seu e ele não tão feliz com a idéia de ser pai. Junte isso ao fato de o nome do bar ser Lourenço e nosso protagonista acaba ganhando a missão de saber o motivo do nome, só que para isso ele vai ter que dar umas voltas no passado e o que ele vai encontrar lá pode não ser tão bom quanto ele imagina ou quer que seja. A história nos mostra o cotidiano desse personagem que quer a todo custo se livrar do bar e da insônia para se mudar e começar uma vida nova em Araruama, uma cidade turística do interior do Rio de Janeiro. O problema é conseguir um comprador para o bar e ir a um médico já que a consulta de Nilo foi marcada para um mês depois, será que ele dura tanto sem dormir? A narrativa do quadrinho nos coloca numa situação complicada de mudança, além de sermos resistentes a mudanças a gente geralmente nem sabe por onde começar. André nos presenteia com essa reflexão e nos conduz a conhecer personagens já falecidos de forma tão natural que é como se eles estivessem vivos. Um ponto forte na obra é sua história nem um pouco fantasiosa. Questões como aborto, paternidade, sonhos, relacionamento, insegurança entre outros são colocados nas páginas da história e por vezes sonhamos com o protagonista apenas para acordar e perceber que não era daquela forma podendo ser melhor ou muito pior. A arte de Pablo Meyer é simples e condizente com a narrativa deixando a sensação de podermos estar mesmo vendo um sonho e isso por sua vez pode deixar alguns leitores um pouco confusos fazendo com que a história fique um pouco superficial, mas, quando os mesmos se acostumam, tudo fica mais fluido e interessante. Por se tratar de uma obra do cotidiano, pode acontecer de alguns leitores não se apegarem aos personagens, a questão maior é que não há um aprofundamento nos sentimentos ou passado de alguns desses personagens enquanto outros estão ali puramente de plano de fundo. O protagonista por vezes divaga entre pesadelos e seu passado e, se o leitor for alguém já acostumado com aquela realidade não se apega a Nilo e seus dilemas enquanto para leitores mais sensíveis pode acontecer de se ter empatia, porém, em ambos os casos, fica a curiosidade em saber como a história daquele homem irá terminar e, quanto mais a história avança, mais a gente quer saber qual rumo ela vai tomar. Por se tratar de uma obra brasileira, as referências ao nosso cotidiano estão muito presentes e vez por outra é comum encontrarmos nomes importantes e em determinado ponto o autor nos desafia a ler um trecho de uma música infantil sem cantar. Isso se torna incrível porque a cena em questão é completamente contrária a música dando um contraste entre alegria, tristeza e desespero mostrados nos quadros. Duas Luas é uma obra simples, profunda em determinados pontos, quase superficial em outros, mas, indispensável leitura para quem gosta de temas reais e vale a leitura não apenas por ser um quadrinho brasileiro como também pela capacidade que esse quadrinho tem de nos convidar a estar no lugar de cada personagem daquele e tentar imaginar como seria nossa vida naquele lugar, naquela situação e, claro, naquela história de sonhos, pesadelos e realidade.

Ludinei foto
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Bem, eu sou uma pessoa que curte a cultura pop tendo um apreço maior pelo estudo de quadrinhos e jogos. Uma pessoa que ama aprender lições no que lê, joga e ama ainda mais transmitir o conhecimento e partilhar as experiências aprendidas no processo. Não se trata apenas de ler, jogar, se divertir. Se trata de fazer tudo isso e contribuir para a construção de um mundo melhor dentro e fora da páginas ou telas.